Cíntia e Luciano queriam adotar uma criança saudável. Ana Letícia e Walter sonhavam com uma grande família. José Felipe e Joseane tentavam ser pais pelas vias naturais há 10 anos. Rose nunca tinha pensado em ser mãe. Flávio e Viviane sentiam falta da presença de uma criança em casa. Airton e Marcos levaram 14 anos para tomar a decisão. Essas seis famílias, que não se conhecem, estão interligadas por um ponto em comum: filhos do coração. Mais do que isso: ao partirem para a adoção eles ampliaram o perfil tradicionalmente procurado pelos adotantes - o de crianças saudáveis de até 3 anos de idade. Seus exemplos são a tônica da campanha Deixa o amor te surpreender, lançada no final da tarde desta sexta-feira, pelo Poder Judiciário do Rio Grande do Sul.
No Estado, 5,2 mil pessoas aguardam na fila em busca de um filho adotivo, número quase nove vezes maior do que a quantidade de crianças e adolescentes aptos para ganhar um novo lar. O perfil desejado pela grande maioria é o de crianças saudáveis, de 0 a 3 anos. Mas, dos 600 jovens em condições para adoção no Estado, cerca de 80% têm mais de 10 anos, pertencem a grupos de irmãos ou possuem algum tipo de deficiência. Mudar essa realidade, proporcionando a convivência familiar, é o desafio da campanha.
Esperamos informar e chamar os pretendentes a adoção para a reflexão deste assunto e, quem sabe, flexibilizar o perfil. E, paralelamente, os Juizados da Infância e Juventude também estão trabalhando sobre esse tema nos cursos de preparação a adoção, fazendo buscas de perfis aproximados para tentar verificar se o pretendente tem possibilidade de flexibilização do perfil, explicou a Coordenadora da Infância e Juventude do RS, Juíza-Corregedora Andréa Rezende Russo.
A Corregedora-Geral da Justiça, Desembargadora Íris Helena Medeiros Nogueira, abriu a cerimônia falando do ingrediente fundamental para o êxito da campanha: Nossa essência é o amor. Não há nada de material que desacompanhado de amor, de foco e de compromisso possa nos trazer felicidade. Buscamos sensibilizar aqueles candidatos que já estão aptos para que flexibilizem suas exigências. Não se trata de apressar uma colocação. Mas, com cautela e proteção, é possível otimizar esse processo, afirmou a Corregedora.
No exercício da Presidência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o Desembargador Carlos Eduardo Zietlow Duro também destacou a importância da ampliação do perfil desejado: A relação de pais e filhos, sejam biológicos ou adotivos, é de amor incondicional. A campanha visa a flexibilização dos critérios para que mais crianças tenham oportunidades de ganharem um novo lar. E isso é um ato efetivo de amor, que permitirá a inclusão social desses jovens para que tenham uma nova progressão na vida.
Ao final, houve apresentação musical da banda Aukera, com a música São as flores, que fala da expectativa de uma família pela chegada da filha adotiva e da emoção do momento do encontro. A banda é formada por Gustavo Fallavena (voz e violão), Rafael Cardoso (guitarra), Peter Fraga (guitarra), Theo Bittencourt (contrabaixo) e Samuel Laranjeira (bateria). Este último, servidor do Poder Judiciário.
Presidente em exercício do TJ, Des. Duro entregou agradecimento
ao Diretor do Pão dos Pobres, que produziu artesanato
para entregar aos apoiadores e familiares envolvidos na iniciativa
Participaram da cerimônia a Secretária da Justiça e dos Direitos Humanos Maria Helena Sartori, o Deputado Estadual Jeferson Fernandes, a Promotora-Assessora da Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos Institucionais Roberta Brenner de Moraes, a Defensora Pública Mariana Py Muniz, a Juíza-Auxiliar do Conselho Nacional de Justiça Sandra Aparecida Silvestre de Frias.
Banda Aukera tocou a música São as Flores,
que conta a história de uma adoção
Quando o amor surpreende
A solenidade aconteceu no miniauditório do Foro Central II, na Capital. Na ocasião, foi apresentado o vídeo institucional da campanha, que conta histórias de adoção de perfis fora do tradicionalmente desejados. É o caso de Cíntia e Luciano Fleck, que estavam na fila de espera para adoção que foram surpreendidos pelo pequeno Théo, um recém-nascido portador da Síndrome de Down. A gente queria uma criança sem nenhum déficit intelectual, nenhum problema mental. Não por preconceito, mas a gente não estava preparado. Aí nasceu o Théo, com Síndrome de Down. A gente teve que mudar o perfil e hoje a gente participa dando força para aqueles que querem ser pais com a nossa presença no grupo de adoção, contam.
Mural retrata a plenitude de famílias que flexibilizaram o perfil,
aceitando crianças com Down, deficiência, irmãos e acima de 10 anos
"A gente se escolheu", orgulham-se em dizer
Os depoimentos de Mariana e dos pais Viviane e Flávio Lencina também emocionaram o público. A gente tinha muito amor pra dar e já mudou o perfil, de zero a 10 anos. Então, veio a Mariana e estamos superfelizes com ela, afirma a mãe. A minha vida foi esperar a minha família, que ficasse de braços abertos para que eu pudesse entrar na vida deles, disse a doce menina, hoje, feliz com a nova família.
Ainda integra a campanha a história de Ana Letícia e Walter Ries, um jovem casal que adotou os irmãos Gabriel, Fátima e Gustavo, uma escadinha de 12, 6 e 5 anos. Gerar um filho ou não, não vai me fazer sentir menos mulher, afirma Ana. É um aprendizado. Eu não tinha nenhum filho e, de repente, eu tenho três, acrescenta.
José Felipe e Joseane Nunes também sonhavam em formar uma família, mas ela não conseguia engravidar. Resolveram adotar. Buscavam uma criança de até seis anos de idade, mas não restringiram o perfil quanto às condições de saúde. Quando conheceram o caso de Priscila, que tem deficiência física motora causada por um AVC sofrido quando ela tinha apenas 5 meses de vida, só tiveram que ampliar a idade pretendida. Quem puder ter a experiência da adoção, ela é única. É mágica. Tu queres aquele filho e a aquele filho, se te aceitou, ele te quer. Hoje, pela experiência, eu digo: graças a Deus que nós insistimos, diz o pai de Priscila. Ela fala com o olhar e eu me apaixonei à primeira vista, completa a mãe que, logo depois da adoção, foi surpreendida com a notícia de que estava grávida.
Integrantes da instituição Pão dos Pobres,
que abriga crianças aptas à adoção
confeccionaram "mimos" para presentear
os participantes da campanha
A maternidade não estava nos planos de Rose Schroeder, 53 anos. Até o dia em que a Técnica em Enfermagem começou a refletir sobre a possibilidade e ela entrou na fila de adoção. Foi assim que, 1 ano depois, César, de 13 anos, entrou na vida dela. A gente se escolheu, resume a mãe, emocionada. É bem legal, eu comecei a gostar dessa família bonita. Ela me ensina bastante coisa. Eu sempre vou amar ela de todas as maneiras, se declara o menino.
Marcos Buffon sempre quis ser pai, mas aguardou a decisão do companheiro, Airton Oliveira. Quando se sentiram prontos, buscaram a adoção. Foi assim que os irmãos José Guilherme e Henrique entraram na vida deles. A gente foi de coração, de peito e de braços abertos, diz Airton. Já vir uma criança pronta, com ideias, com qualidades, tu te apaixona e admira, completa Marcos. Mudou totalmente o rumo da nossa vida como mudou o rumo da vida deles, diz o filho Henrique.
Autoridades ligadas à área da adoção e convidados
prestigiaram o lançamento da campanha
Participações
Também prestigiaram o evento a Vice-Presidente da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS), Vera Lúcia Deboni; o Diretor da Fundação Pão dos Pobres João Rocha; o Presidente da Associação Riograndense de Imprensa João Batista de Melo Filho; o Vice-Presidente da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (AGERT) Wanderley Ruivo; o Vice-Presidente do Grêmio Football Portoalegrense Sergei Costa; o Juiz-Corregedor Coordenador José Luiz Leal Vieira; os Juízes-Corregedores Laura de Borba Maciel Fleck e Luiz Felipe Severo Desessards, além de magistrados e servidores.
Comentarios Adicionar comentario